Como se explicar um dom? Você simplesmente sabe que é capaz, tão seguro de si, faz e dá certo, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Pois bem, é assim que me sinto quando estou fazendo os meus doces. Desde os 12 anos de idade, sempre trabalhamos eu e meus irmãos com o meu pai, padeiro, comerciante, homem de garra; Minha mãe doceira, fazia bolos para os diversos eventos e com tão pouca idade eu já confeitava os bolos dela. Acho que na verdade nem eu e nem ela pensávamos no tamanho que era a responsabilidade, o fato é que eu sabia que "sabia" confeitar e ela sabia que poderia confiar! Segui por muitos anos fazendo como a criatividade mandava, até que resolvi fazer alguns cursos e fui melhorando.
Trabalhei por exatos 12 anos na área de saúde, em diversas funções, em diversos locais bem conceituados de Salvador, com um salário que mal dava para pagar o aluguel. Tentando crescer nesta área, tentei a faculdade de enfermagem com uma mensalidade de R$ 800,00 há 5 anos atrás, como pagar? sabe aquela música "segura nas mãos de Deus e vá" assim eu fui, segurando nas mãos de Deus até o segundo semestre quando os meus cheques começaram a voltar sem fundos...
Será que vocês podem adivinhar como melhorava meu pequeno salário e ainda assim conseguia cursar a faculdade? lembra dos bolos da minha mãe? Pois é, trabalhava a noite toda no hospital, estudava de manhã e de tarde fazia tortas e sanduíches para vender no trabalho e na sala de aula. Não me envergonha dizer quantas vezes saí de casa só com a passagem de ida, a volta estava na sacola cheia de bolos e sanduíches para vender! Meu esposo até brincava "fico admirado como você sabe fazer dinheiro" rsrsrs. Será que senti vergonha de vender aos médicos? às enfermeiras? me concentrava no leite da filha que estava terminando em casa, nas contas atrasadas e me desculpe a vergonha, mas aqui você não tem lugar, VÁ EMBORA!
Todos gostavam dos lanches que fazia, e como meu apelido desde infância é Mel, passaram a me chamar de "Mel Doçuras" assim surgiu a minha marca.
Um "belo" dia, que de belo não tinha nada, em que recebi meu contra-cheque da empresa o susto foi maior com um valor bem menor do que o esperado e fui dormir soluçando de tanto chorar e pedi com toda a minha força a Deus que fosse merecedora de uma luz. Tamanha foi a minha fé que tive um encontro com o meu avô já desencarnado Raimundo José, sorrindo para mim e pedindo que abrisse o Evangelho e que a minha resposta estava lá na Parábola do Semeador. Assim que acordei procurei o meu Evangelho segundo o Espiritismo e li e lá realmente estava a minha resposta: " uma vez jogada em terra fértil a semente, ela germinará e dará bons frutos", e a minha terra fértil sempre esteve ali, desde a minha infância, o dom que sempre me ajudou a pagar as minhas contas, sempre me tirou dos apertos, e a minha consciência não havia despertado, até então.
O que fiz? parei de semear as minhas sementes na terra que de fértil não tinha nada, precisei de coragem e consegui. Comecei do zero, sem emprego, em busca de novos horizontes e fui estudar Gastronomia.
Desde então tenho sede de aprendizado, procuro e encontro.
Não é fácil! Em todos os aspectos. Tudo isso só é possível por que Deus coloca em meu caminho ferramentas e pessoas maravilhosas que me ajudam a construir a minha história e seguir em frente.
Eu sei que para muitos, isso aqui não quer dizer nada. Mas sei também o quanto todo este relato representa para mim e pode representar para muitos que vivem a minha realidade.
Estou a engatinhar na minha profissão, tenho muito que aprender, um mundo de sabores e aromas a estudar (preciso admitir que já está sendo uma delícia!). Mas, em fim, a mensagem que quero passar através deste texto enorme é só uma: dizer a você que Deus nos dá todos os dias a chance de fazer um novo começo, e que as vezes as nossas respostas estão sempre tão perto e não as enxergamos. Não basta reclamar da vida, é preciso sacudir, levantar poeira e dar a volta por cima!
Particularmente, esta é uma das minhas fotos preferidas. Foi feita de uma maneira bastante espontânea, na aula de cozinha internacional da faculdade e traduz no meu sorriso a alegria de estar fazendo algo que gosto.
Esta é a minha maior motivação: minha família linda! a minha melhor platéia!
Aqui, bem pequena a minha marca, está ganhando cara nova, logo esta abelhinha estará mais gatinha! rsrsrs
Obrigada e tenha uma ótima semana!
Mércia Costa